Notícias

Átopos: As Dores de Existir

Átopos: As Dores de Existir

O Projeto Átopos constitui iniciativa dos alunos do 9º ano do Ensino Fundamental e da 1ª série do Ensino Médio, com a mediação das professoras Bruna Giro, Ingrid Boer e Tatiana Gerardini. Átopos, do grego, significa, literalmente, "não-lugar". Já na obra do historiador da Grécia antiga, Timeu, é substantivo que nomeia as coisas insólitas, que causam estranheza e que se inscrevem no campo do absurdo.
Os sentidos dessa palavra deslizam pelos trilhos da Língua Portuguesa e assumem diferentes significações: descabido, estranhamento de si frente à realidade, absurdidade. Nas palavras de Alice Haddad, doutora em Filosofia e Professora Adjunta do Departamento de Filosofia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, "[...] é o que não se encontra em seu lugar, donde: 'extraordinário, estranho, insólito'; por conseguinte, 'extravagante, absurdo' etc. Em português, teríamos também a tradução possível por “descabido”, como aquilo que não cabe, que está deslocado, fora do lugar[...].” O substantivo próprio serviu para nomear, ao mesmo tempo, o tema e o conjunto de atividades desenvolvidas junto aos alunos.
Assim, átopos constitui o lugar para abordarmos problemas inerentes à condição humana: a angústia, os medos, as ansiedades e os adoecimentos da psique. Os alunos elegeram tais assuntos para usá-los em atividades que expressassem, esteticamente, esse pouco saber de si. A proposta foi transformar aquilo que dói na alma em vontade de beleza e, por fim, em arte. Átopos, o não-lugar, o descabido, constitui o espaço da condição humana mais radical: sem um lugar na natureza, o ser humano faz arte.
Sendo assim, átopos parece boa palavra para nomear um projeto que objetiva colocar, em cena, o homem e a humanidade que o constitui, pois nada é tão misterioso, insólito, absurdo e inquietante quanto o próprio homem, verdadeiro forasteiro em continente próprio.
Nos dias 20 e 21 de junho, esse Projeto promoveu três eventos, dos quais puderam participar os alunos tanto do 9º ano do Ensino Fundamental quanto do Ensino Médio, assim como seus pais. No dia 20, o psicanalista e professor de Filosofia Dr. Márcio Mariguela fez a excelente palestra "Tragédias Gregas e a Condição Humana na atualidade: fobias, ansiedade, depressão e pânico". Nela, o profissional afirmou: “Somos uma potência estética para fazer, da nossa vida, uma obra de Arte”. Abrindo esse evento, os alunos Maria Fernanda Kroll e Luca Corazza demonstraram os seus talentos musicais ao som do piano. Já no dia 21, os alunos participaram de uma profunda reflexão na roda de conversas com as professoras Bruna e Tatiana, por meio de discussões que abordaram aspectos do sofrimento psíquico (a questão central da Filosofia). Perceberam, nesse diálogo, que, atualmente, se vivem a banalização das dores de existir e o excesso de diagnósticos, que retratam a fragilidade crônica da sociedade. Ela não vem suportando mais a tristeza e a angústia, que, embora causem sofrimento, também são responsáveis por sustentar nossa existência.
Para finalizar os eventos, a noite de 21 de junho contou com a apresentação de balé e a reencenação da peça “O que restou de Vênus?”, de autoria do aluno Igor Castilho, protagonizadas por alunos do CLQ.

Compartilhe essa postagem
Mais notícias
WhatsApp